" Penitência "
Às vezes, me envergonhode alguma ajuda recebidaquando sei que há tantos homens mais necessitados,sem um gesto de apoio ou de acolhida.
Me envergonho de gozar meu reduzido confortoquando sei que há tantos homens inteiramente desabrigados,sem destino nem porto...
Me envergonho de meu egoísmo a se chamar de altruísmoquando dou uma esmola e continuo para a minha sessão de cinema.
Me envergonho do pouco que afinal tenho conseguido(embora eu bem reconheça meu esforço e resistência),quando sei que há tantos homens inteiramente exaustos,sem uma recompensa nas mãos asperamente feridas.
Me envergonho de meu nome, - única herança recebida,do meu plano, - conquistado lentamente do chão,mas enfim, conquistado,quando sei que há tantos homens surgindo do anonimatovindos de profundezas abaixo do nível do marnum esforço desesperado!
Me envergonho de meu otimismo transparente em meu cantode cada dia,quando sei que tantas vidas serão humilhadas com istoe tantos ouvidos serão afrontados pela minha alegria.Me envergonho de minha saúde tão bem protegida, ostensiva,quando sei que há tantos homens se arrastando vencidose tantas crianças que nem mesmo hão de chegar a ser homens.
Me envergonho do meu prazer, do meu entusiasmo de possedo meu orgulho inútil,quando sei que há tantos homens tristes, aniquilados,e há outros tantos, superiores, que se entusiasmam na renúncia.
Às vezes, me envergonho de mim mesmo, nessa impressãode que devia saber ser mais útil, mais humano,como fazer alguma coisa, de algum modo que deve existir,para que todos sejamos melhores e para que nada nos envergonhe.
( Poema de J G de Araujo Jorgedo livro " Mensagem " 1a ed. 1966 )
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